Maise demorou a acordar. Fiz meu ritual diurno e quando voltei Tana estava na entrada, junto com vários guardas gnomos. Mandei todos embora. Aquele dia era nosso e eu cuidaria dela. Disseram que tinham ordens de Elros para não perder Maise de vista por nenhum momento e recusaram-se a ir. Concordei que ficassem desde que não visse nenhum deles e sumiram nas árvores. Tana também não queria ir, mas enviei-a para casa pedindo que fizesse uma comidinha bem gostosa para nosso almoço e que ficasse por lá até chegarmos. Desde que voltei Maise e eu praticamente não conseguimos ficar a sós e estava cansado de ver este monte de pessoas à nossa volta.

Entrei e ela continuava dormindo. Preparei um café da manhã especial esperando que o cheiro do café acordasse-a e como isto não aconteceu, deitei ao seu lado. Não queria acordá-la e ao mesmo tempo estava ansioso por isto.

Ela abriu os olhos quando toquei sua face com as costas da mão.

– Oi – Disse, antes de dar-lhe um pequeno beijo nos lábios.

– Oi – Ela respondeu sorrindo após o beijo.

– Fiz café da manhã para nós. Fique na cama.

– Antes vou escovar os dentes. Espere. – Ela foi e quando voltou já tinha arrumado a bandeja e estava aguardando. Ela voltou para a cama.

– Ah, que lindo! Você é um excelente cozinheiro para um anjo.

– Apenas um pouquinho melhor do que certa rainha que conheço. – Respondi rindo.

– Oh! Você… – Não conseguiu terminar com o beijo que lhe dei.

– Hummm… Dois beijos logo cedo. Você está generoso hoje. Estou adorando.

– Coma, amor. Hoje o dia é nosso e temos muito tempo para namorar e conversar.

Tomamos o café assim, entre carinhos, beijos e brincadeiras. Quando terminamos levei a bandeja para a pia e voltei para a cama.

– Nem pense em fugir, volte aqui. – Ela estava levantando já e deitou novamente. Abracei-a. Estava doente de vontade de sentir seu corpo bem junto ao meu. Fiquei alisando suas costas e beijando-a no rosto e cabelos. Ela era tão quente e macia quando me lembrava em nossa separação.

– Eu te amo, Maise. Senti tanto a sua falta.

– Eu também te amo, anjo. Você demorou.

– Aconteceu uma coisa, pequena. Não tive como contar antes. Tive problemas para chegar a Celes. Não conseguia ficar imaterializado. Desmaiei de exaustão quando cheguei e fiquei internado em um quarto isolado. Houve uma alteração genética em meu corpo pelo contato permanente com as energias da Terra. Os cientistas de Celes ainda estão estudando e buscando uma forma de reverter, mas a princípio tive duas opções: ou ficava em Celes aguardando a solução e desintoxicando-me ou, se voltasse para a Terra ficaria preso nesta aparência materializada, sem poder voltar lá.

– Nossa! E você voltou. O que isto significa?

– Eu ia ficar. Já tinha decidido. Por mais difícil que fosse seria melhor para nós dois no futuro. Até chamei Eliah para mandar um recado para você, mas quando ele chegou e contou-me que você estava desaparecida, vim na hora. Felizmente consegui encontrar você a tempo.

– Ainda bem que veio, anjo. Eu teria ficado apavorada ao despertar ali, sozinha e paralisada. Sem contar que provavelmente teria morrido. Obrigada. Mas o que acontece com você agora?

– Agora sou meio anjo e meio humano e ao mesmo tempo não sou nem um e nem outro completamente. Aparentemente nada mudou. Teoricamente continuo sendo anjo e felizmente minhas asas não são visíveis. Posso voar, tenho força sobre-humana, vejo e ouço mais do que os humanos, tenho poder de cura, enfim… meus “poderes” são iguais. Penso que continuarei meu trabalho no complexo. Só duas coisas mudaram realmente: como não posso ficar imaterial novamente, estou preso na Terra. Não posso voltar a Celes e nem ir a outros mundos mais leves. E também, não sou mais imortal. Posso morrer se algo acontecer com meu corpo que é um híbrido, uma mistura de corpo fluido com energias da Terra.

– Bom, quanto a estar preso na Terra, adorei. Agora quanto a poder morrer, não entendi direito. Você vai envelhecer como eu? E morrer como todos nós?

– Não vou envelhecer. Continuarei com esta aparência enquanto viver. E quanto a morrer como vocês, não. Não vou morrer de velhice, por alguma falha do corpo, mas posso não sobreviver a um acidente que atinja alguma área vital como coração ou cabeça, p.e.. O que quer que aconteça a meu corpo material acontecerá também a meu corpo fluido.

– Não parece tão ruim. É melhor do que conosco que envelhecemos.

– Não vou te enganar, Maise. É muito ruim sim. Porque você, quando morrer aqui, continuará vivendo no mundo fluídico com seu corpo leve e eu não. Nós dois temos apenas esta vida juntos e não mais a eternidade. Quando eu morrer, meu espírito vai se espalhar pelo universo, sem ter um corpo para contê-lo como os humanos.

– Ah não, anjo. Não é justo. – Ela abraçou-me um pouco mais.

– Os cientistas de Celes continuam pesquisando e pode ser que encontrem uma forma de reverter meu corpo ao que era antes. É uma esperança com a qual viver. Uma vida é pouco para nós, ainda mais que não sabemos quanto tempo durará.

– Eles vão conseguir, meu amor. Deus será justo conosco.

– Espero, Maise. Mas enquanto não conseguirem, é esta a situação com a qual teremos que viver. E isto muda muita coisa.

– Como assim? Você disse que continuava tudo aparentemente igual.

– Quando você tem a eternidade pela frente não existe pressa, urgência, para nada, mas saber que só temos esta vida muda tudo.

– Entendo.

– Maise, quando vi você envenenada lá na laguna, foi muito ruim, mas quando Elros falhou e o teu coração estava quase parando e pensei que iria mesmo morrer… Imaginei minha vida, preso aqui na Terra, sem você. Não haveria sentido algum em continuar existindo sem você. Penso que eu morreria de alguma forma. Não iria querer continuar vivendo.

– Eu também não conseguiria viver sem você.

– Antes, eu não queria comprometer você sem saber direito se poderíamos ficar juntos ou quanto tempo permaneceria aqui. De certa forma era um bloqueio, uma barreira para nosso relacionamento. Agora é diferente. Eu mudei naquele instante em que quase te perdi. Não sei ainda quanto tempo temos para viver juntos, mas quero você. Inteira e completamente. Seu corpo e sua alma. Quero viver ao seu lado todo instante de minha vida. E não quero esperar. Nada. Sinto-me completamente humano com relação a você. Egoísta e possessivo um pouco além do que gostaria. – Ela riu.

Eu a beijei para que entendesse totalmente o que eu dizia. Um beijo caloroso e faminto que logo se tornou erótico demais, alterando nossas respirações.

– Maise. Quero fazer amor com você. Intensamente. Quero você demais! Sinto-me quase insano de tanto que desejo você, mas não é só isto. Quero que estejamos unidos de corpo, mas também de alma, de todas as formas possíveis.

– Anjo, minha alma já é tua.

– Não, pequena, ainda não. Quero que seja minha mulher, minha esposa, aos olhos de Deus e do mundo. Você quer se casar comigo?

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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