Reviews: crítica versus fanboys

by A Itinerante

Para o bem ou para o mal, os reviews são parte integrante do jornalismo. Elas estão presente em qualquer grande portal que se preze e também aqui no Resident Evil SAC, servindo para firmar a posição de cada veículo perante o universo que deseja retratar. O Brasil, porém, é um dos poucos territórios em que esse tipo de texto também representa um problema terrível e, para muitos, uma guerra que é questão de vida ou morte.

A discordância de fãs e leitores com a nota recebida por um jogo em uma análise é uma das poucas verdades absolutas do mercado de games. Quem trabalha no meio sabe. Sempre que um review é publicado, existe um determinado número de fãs de um título específico que vai discordar do que está escrito. Até aí, não há problema algum, cada um tem direito à sua opinião e o mundo seria bem melhor se todos compreendessem isso.

O problema começa quando os leitores afirmam de forma veemente que você está errado e tudo aquilo que está escrito em sua análise é uma grande bobagem. Para provar isso, usam todo tipo de argumento esdrúxulo quando, na verdade, estão movidos por um sentimento extremamente passional por um título ou série. Enquanto um comentário desse tipo é escrito, um único pensamento passa pela cabeça desses indivíduos: “como esse sujeitinho ousa falar mal de minha franquia favorita?”

Esse texto tem um caráter mais pessoal do que a maioria dos outros postados por aqui. Vou falar como quem está do outro lado, como quem escreve e tem que lidar com esse tipo de situação. O assunto é pertinente já que, com a chegada de Resident Evil 6 e de RE5: Retribuição, há todo um exército tentando provar que os títulos são os melhores de todos os tempos e contrariando toda e qualquer crítica negativa. É hora de exibir algumas contradições e falar algumas verdades.

Apenas uma opinião [ou não].

Um dos principais argumentos usados pelos fanboys para desclassificar uma análise de um game é afirmar que aquele texto é uma “mera opinião”, assim como a de qualquer outra pessoa. Não é bem verdade. Apesar de uma análise ser, sim, a visão de um avaliador sobre o game, baseada em seus conhecimentos e experiência, ela não é assim tão pessoal como muita gente faz questão de frisar.

Vou usar o meu próprio trabalho como exemplo. Odeio RPGs e não gosto de nenhum tipo de obra que tenha temática medieval. Nunca li a trilogia “O Senhor dos Anéis” e quase morri de tédio assistindo ao primeiro filme da série. Respeito a influência de Final Fantasy e de todo o universo criado pela Square, mas não tenho paciência com os títulos.

Em meu trabalho, porém, muitas vezes me vejo obrigado a falar sobre RPGs e até mesmo analisá-los, por mais que não goste deles. Mas não posso deixar que meu gosto pessoal interfira na nota final de um game. Na hora de falar sobre isso com o grande público, todo jornalista que se preze precisa deixar de lado suas preferências pessoais e analisar os títulos da maneira como eles são, vendo defeitos e qualidades da forma mais imparcial possível.

Esse distanciamento, por exemplo, explica a nota 82 que dei ao RPG Dragon Age II, em minha análise para o site Baixaki Jogos. No mesmo veículo, dei 72 para o game Tron: Evolution, baseado em uma de minhas séries de filmes favoritas. E, aqui mesmo no SAC, o amor pela série Resident Evil não impediu que eu desse 3,5 para RE: Operation Raccoon City.

Todos os textos se baseiam em critérios práticos e evitaram ao máximo qualquer envolvimento pessoal com o game. O fato de eu estar controlando um personagem em um mundo cibernético que eu apenas havia visto no cinema ou revisitando a destruição de Raccoon City interferiram muito pouco na análise. A avaliação levou em conta elementos como jogabilidade, gráficos, diversão e coisas desse tipo.

O mesmo vale para a maioria dos grandes sites ou, pelo menos, para qualquer um que se preze. Por isso, ao perceber que alguns veículos estão criticando o game que tanto gostamos, dizer que analistas de games são pagos apenas para reclamar e que não estão sendo sinceros em sua análise é não apenas uma crítica vazia, mas um desrespeito ao trabalho realizado ali.

Afirmar que os jornalistas estão sempre criticando e que, na verdade, serão os primeiros a jogarem um título também é igualmente ruim. Sem conhecer a pessoa que escreveu aquele texto, você está afirmando que ela é simplesmente antiética e implicante, quando na verdade, é você quem está falando bobagem e fazendo um comentário que simplesmente não tem razão de existir.

É engraçado notar que, quando o contrário acontece, as análises dos grandes veículos são tomadas como uma grande prova de que um game realmente é ótimo. Ao encontrar um amigo seu falando mal de um grande título, com certeza você vai se armar com uma série de reviews e prêmios da crítica especializada. Afinal de contas, o Omelete deu nota alta para Resident Evil 5: Retribuição, não é verdade? No caso negativo, porém, “uma análise não vale nada e o que importa mesmo é a opinião de cada um”. Engraçado isso.

O amor por uma franquia pode causar cegueira

Mesmo quando uma análise se baseia em critérios concretos, ainda assim existe margem para opiniões ou preconceitos. Uma dinâmica inédita de jogabilidade que para alguns pode parecer confusa, para outros pode ser perfeita. O mesmo vale para a profundidade de um enredo, que depende da tolerância de cada indivíduo a clichês ou revelações bombásticas.

Há certos aspectos, porém, que não podem ser ignorados e eles se concentram, principalmente, na parte gráfica de um título. Voltando à primeira demo de Resident Evil 6, é simplesmente impossível não reparar no screen tearing e na grande quantidade de texturas simplesmente ruins. Todas elas estão lá, bem na cara, para quem quiser ver. Mas, aparentemente, a visão do fanboy tem um filtro para esse tipo de coisa.

Tem muita gente por aí afirmando que Resident Evil 6 é infinitamente superior a RE5 quando o assunto são gráficos. Ignora-se, por exemplo, o fato de praticamente todas as sombras estarem cheias de fragmentos e pixels ou dos serrilhados estarem presentes em praticamente todos os lugares. O hype, aparentemente, faz com que os fanboys vejam a screenshot acima (clique para ampliar), produzida pelo site Digital Foundry, como uma belíssima pintura.
“Gráficos não são nada”, dizem alguns. Tudo bem, eu concordo que os visuais não devem ser levados como o elemento definidor para a qualidade de um game. Mas quando um título apresenta uma série de defeitos – sim, o que temos são defeitos e não visuais fracos – como Resident Evil 6, é impossível não ficar decepcionado com a falta de cuidado da Capcom no desenvolvimento.
A boa notícia é que uma parte dos problemas foram resolvidos na demo pública do game. Mas a outra metade deles continua lá e, bem provavelmente, também estará presente na versão final. Infelizmente, o desenvolvimento de um game desse tamanho não é assim tão simples. Basta pesquisar um pouco para perceber que nada é tão fácil quanto pensa o fanático.
Pelo que eu vi, você que jogou está errado
Um terceiro elemento bastante comum nas “críticas às críticas” é afirmar que o autor do texto está errado ao dizer que, por exemplo, a jogabilidade de um game é ruim. Afinal de contas, nos vídeos e trailers de divulgação tudo funciona bem e a mecânica do jogo é ótima. É, isso mesmo. Você está se baseando em um vídeo e jamais tocou no controle ao afirmar que os controles de um título são perfeitos.

Vídeos e trailers, principalmente os lançados pela desenvolvedora, podem ser enganosos até mesmo para perceber o potencial gráfico de um game. Um exemplo recente é Need for Speed: The Run, que usou toda a propaganda da engine Frostbite II feita por Battlefield 3 para prometer gráficos nunca antes vistos em um game de corrida. O resultado final, porém, não fazia jus ao título de tiro da Electronic Arts.

Um conselho de amigo: não conte com os ovos dentro da galinha. Por mais que você ame uma franquia e confie plenamente nas capacidades de uma desenvolvedora, jamais afirme que tudo “parece bem” sem realmente ter a certeza de que isso é verdade. Quanto mais você insistir, mais ridículo será quando você perceber que está errado. Jogabilidade se avalia jogando. Afinal de contas, é por isso que se chama “jogabilidade” e não “assistibilidade”.

Heróis em defesa do nada

Presentes principalmente nas análises de filmes, os “defensores” enxergam a si mesmos como um grupo de super-heróis que lutam pela paz e pela justiça – desde que ambas, é claro, estejam de acordo com suas próprias visões. Cada um com seu próprio poder de argumentação, eles povoam áreas de comentários de sites de cinema, atacando todos aqueles que possuem uma opinião contrária a deles.

No mundo Resident Evil, as armas são as mais diversas, mas existem duas principais. De um lado, estão aqueles que afirmam que os longas de Paul Anderson são totais deturpações da saga e que os “fãs de verdade” não gostam disso. De outro, estão os que batem nos roteiros e situações dos games para justificar o vazio e as grandiosas cenas de ação vistas nas telonas.

Independente de quem está certo, esse é, de longe, o pior grupo de fanboys existente na galáxia. São essas as pessoas que, durante todo o mês de setembro, me levaram a pensar se realmente valia a pena continuar falando sobre os longas por aqui. Pior do que isso, cheguei a imaginar que fechar o Resident Evil SAC seria algo melhor do que ter que lidar com esse tipo de pessoas diariamente.

É aí que entra a questão mais esquizofrênica de todas. Como eu disse na primeira edição do VideoSAC, em meio à moderação dos comentários, fui chamado de anti-filmes pelos adoradores de Paul Anderson e de pró-filmes por aqueles xiitas que odeiam o diretor. E o mais legal de tudo: pessoas que juraram que não iriam mais acessar o site continuam por aí, destilando o veneno e falando em modo moderado como se o mundo ainda pudesse ouvi-los.

Não me entendam mal, não são os argumentos pró ou a contra dos filmes que são o problema. Que bom seria se todos soubessem discutir com maturidade e, por mais que alguns argumentos sejam pobres ou fracos, fossem defendidos como aquilo que realmente são. Sem que as pessoas partissem para a agressão ou xingamentos, em uma exibição patética da própria idade mental infantiloide.

Minha satisfação ao abrir a área de comentários, em alguns momentos, era semelhante à animação do macaco visto na imagem acima. Confesso a vocês o seguinte: nunca torci tanto pela estreia de um filme. Não por estar empolgado para vê-lo, e sim porque isso significaria o fim de todo o “mimimi”.


Espelho quebrado


Antes de seguirem direto para a área de comentários me xingar ou continuar qualquer uma das situações cretinas que citei neste texto – se é que você chegou efetivamente a lê-lo – atenção para alguns avisos:

Estas são apenas situações que observo no meu dia a dia, tanto aqui no SAC quanto em outros sites. Esse texto serve também como um desabafo após uma longa jornada de análises e conteúdo aqui no SAC. Tudo foi muito exaustivo, mas não apenas pela quantidade de textos, mas também pelas enormes quantidades de lixo que tiveram de ser reviradas e removidas da área de comentários.

Este artigo não tem a intenção de mudar a ideia de ninguém sobre as coisas, e sim, apenas expor o outro lado. Assim como o filtro para defeitos visuais, a possibilidade de conhecer a jogabilidade de um game apenas pelo vídeo, o fanboy também jamais consegue se observar como um. Muito menos perceber que suas críticas não passam de tentativas desesperadas de proteger aquilo que para eles é de suma importância. Custe o que custar.

Acredite, você não está em uma cruzada para defender o nome e a honra de Resident Evil perante os grandes vilões da imprensa ou do público em geral. O que você está fazendo é poluir ambientes virtuais e escrotizar discussões que poderiam ser bem interessantes, mas acabam se transformando em uma praça de guerra na qual as granadas são argumentos que não fazem o menor sentido. Acredite, o gosto de língua mordida é bastante amargo. Mas esse também será filtrado pelo seu cérebro fanático. Infelizmente.

Fonte

Opinião: Trouxe para cá esse texto por sugestão dos frequentadores do blog, acredito que cada um tem seu gosto por determinada serie, mas é necessário que aprendamos a respeitar as opiniões adversas que cada um ira ter, o blog ira passar por uma mudança radical muito em breve e agradeço demais o tempo que passo aqui com todos vocês e pelos amigos que pode fazer nesse período, espero que leiam e que todos reflitam.

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